Sobre

Escolhemos construir um Catálogo Arquivístico Sumário de documentos sonoros, operacionalizado por meio da criação de um blog, que servisse não só como um instrumento de pesquisa dos documentos, mas também como ferramenta de divulgação e difusão documental. O catálogo sumário, como disposto na literatura, descreve um fundo por suas séries documentais, de acordo com uma ordem, não necessariamente a de arranjo, com o mínimo de informações para orientar o pesquisador antes que ele consulte os documentais. Pretendemos, então, algo diferente dos padrões usuais tanto para auxiliar no aprendizado próprio quanto para trazer novas formas de se colocar em prática os serviços de um profissional arquivista, condizentes também com a conjuntura de uma sociedade da informação digital.

A Arquivologia Musical, termo cunhado por Cotta (2006), é um campo de conhecimento que reflete a interdisciplinaridade das Ciências ditas da Informação, como a Arquivística, que “alia conceitos e técnicas da arquivologia tradicional às necessidades específicas para o tratamento técnico de acervos ligados à música” (COTTA, 2006, p.16). É com base nos estudos dessa área que pensamos em adequar a prática da descrição arquivística. Adotada a ideia norteadora de se difundir em uma quantidade maior o tema de documentos sonoros, ainda tão pouco usuais em plataformas arquivísticas, a proposta inicial de um trabalho que fosse acessível tanto em computadores quanto em celulares foi bem promissora.

Algumas dúvidas, no entanto, surgiram já de início: um acervo musical seria uma coleção? Como descrever e divulgar uma série sem ferir os direitos autorais? Para a primeira pergunta, pensa-se que, no cumprimento das funções de um musicista em relação à sua missão artística e de entretenimento assim atribuladas – como a escrita, composição e gravação de músicas que figuram nos álbuns de estúdios e de apresentações ao vivo -, geram vários documentos além dos discos propriamente ditos. Logicamente, então, em seu tratamento, o fundo contemplará todos esses documentos, caso sejam de natureza arquivística, sem seleção artificial, respeitando o princípio da organicidade.

Para o âmbito deste trabalho, por fim, definiu-se que, apesar de  a produção musical ter maior relevância para o nosso catálogo e, consequentemente, ter sido descrita primeiro, foram separadas outras séries que também fazem parte do trabalho do artista, como contratos, eventos, entrevistas e outros. Inicialmente, pensamos em trabalhar com um acervo de um músico específico; mas nos debates quanto à escolha deste, surgiu uma ideia que mudaria o rumo do trabalho: “Por que não criar um repositório musical em que pudéssemos alimentar periodicamente com novas descrições de outros cantores?” Assim nasceu o Arquiva-1, nome criado em homenagem à Rádio Antena 1, em que a programação é composta, em sua maioria, por músicas dos anos 70, 80 e 90. O Arquiva-1 foi lançado na plataforma WordPress, com todas as funcionalidades bem conhecidas por usuários de blogs em geral.

Dando início aos trabalhos, escolhemos The Smiths para ser a primeira banda a ser descrita como entidade coletiva produtora de documentos arquivísticos, de acordo com a ISAAR (CPF) – Norma Internacional de Registro de Autoridade Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias. Como a banda em si já foi extinta e seus membros se separaram, não tendo perspectiva de uma reunião futura, pode-se considerar toda a produção documental como sendo um fundo fechado. Esse fundo e suas séries foram descritas com base na Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE), além de adaptações feitas para o contexto musical, com ideias retiradas da norma RISM (Répertoire Internationale des Source Musicales), própria da Musicologia.

Um dos maiores desafios foi a adaptação de um player que funcionasse de modo gratuito (tendo em vista que muitas soluções encontradas precisavam da modalidade paga do serviço WordPress) para que os itens documentais fossem acessados como documentos sonoros. Felizmente, conseguimos incluir as discografias disponíveis no blog através da plataforma de streaming Spotify para carregar as músicas de forma gratuita, sem ferir os direitos autorais (o que responde parcialmente à segunda dúvida levantada no início). Por meio dessa plataforma, pode-se ouvir trechos das músicas sem necessidade de qualquer cadastro, e elas na íntegra mediante cadastro gratuito. Nesta parte, percebemos a importância da área de Tecnologia da Informação, que pode ajudar, e muito, na Arquivística, principalmente nas funções de recuperação da informação e de difusão.

Para concluir, pode-se dizer que o resultado obtido foi, para nós, bastante satisfatório, pois a ideia de tornar nosso catálogo acessível foi concretizado, seguindo os padrões arquivísticos, mas sem deixar de ser atrativo para um público geral. Além disso, tem-se a ideia de que, sendo a ferramenta de blog, com suas conexões facilitadas com as redes sociais, uma maneira de interação muito próxima dos usuários, leigos e pesquisadores, será possível aceitar sugestões de novas descrições de outros músicos, ou colaborações de outros usuários interessados na área da Arquivologia e fãs de músicas para nos mandarem descrições de seus artistas favoritos, possivelmente por meio de formulários de fácil preenchimento. A expansão e reconhecimento do blog é um dos nossos próximos desafios.